
Donald Trump quis ser claro, mais uma vez, quanto à sua posição no debate sobre o controlo do acesso a armas nos Estados Unidos. Na sequência do ataque a uma escola primária em Uvalde, que fez 21 mortes, o antigo líder norte-americano admitiu que não vê as armas como o problema quando se trata de assassinatos em massa. Em vez disso, Trump culpa uma cultura norte-americana em que a saúde mental está em declínio, a disciplina escolar está omissa e o núcleo familiar tradicional está em decadência.
O republicano acredita que o problema é o de existirem “pessoas violentas e mentalmente perturbadas”, pelo que, dada a repetição de acontecimentos de grande violência, “tem de se alterar a forma como se encara a saúde mental”. É preciso alertar e proteger pais, professores e sistemas de educação, em vez de se “encontrar desculpas para justificar o mau comportamento”, argumentou Donald Trump, durante o evento anual da National Rifle Association.
Durante a convenção da National Rifle Association (NRA), em Houston, no Texas, o ex-Presidente norte-americano discursou perante aqueles a quem chamou “patriotas da associação de armas dos Estados Unidos da América (EUA)”. Trump elogiou a NRA e salientou que esta se tem mantido “firme na defesa das liberdades, ao longo de 150 anos”. O antigo Presidente norte-americano lançou logo, nos momentos iniciais da sua intervenção, o mote: “Vamos continuar assim por muitos, muitos anos.”
No discurso de Trump, que perdeu as eleições de 2020, não faltaram elogios aos “cidadãos presentes”, que “são a coluna vertebral do país”, e até a Ted Cruz, que tantas vezes criticou. O antigo Presidente dos EUA admitiu que o país está de luto desde o “massacre hediondo” no qual 19 crianças morreram. Depois de caracterizar o ataque como uma “atrocidade bárbara que choca cada um dos norte-americanos”, o republicano pediu à audiência um minuto de silêncio, durante o qual leu os nomes das pessoas que morreram “às mãos de um homem de 18 anos que facilmente conseguiu comprar duas armas semiautomáticas”
“Cada alma preciosa que foi roubada é uma perda irreparável. O monstro que cometeu este crime é ‘puro ódio’, estará eternamente condenado a arder no inferno, ao contrário das crianças que morreram.” Prosseguindo nas referências religiosas, Donald Trump também apelou a “Deus” para que auxilie as famílias que estão a lidar com a perda.
O antigo chefe de Estado dos EUA também aproveitou para apontar o dedo ao seu sucessor: “Quando Joe Biden culpou o ‘lobby’ das armas, estava a falar de norte-americanos como vocês, e sugeriu que os republicanos estão de acordo em permitir que haja tiroteios destes em escolas.” Trump esclarece que o problema não reside nas políticas de controlo de armas, e garante que a “esquerda” nada fez para impedir “este horror”.
“Se há 40 mil milhões para enviar a Ucrânia” – alegou Trump, mencionando ainda os “bilhões gastos no Iraque e no Afeganistão” -, também há dinheiro para “construir escolas seguras para as crianças”. O antigo chefe de Estado dos EUA também se referiu aos montantes gastos durante a pandemia de covid-19, sublinhando que esse valor ” deve ser investido na segurança e defesa de estabelecimentos de ensino”.
Trump deixou, por fim, vários pedidos: apelou à união entre republicanos e democratas em todos os Estados e a revisão total da segurança em todos os estabelecimentos de ensino, que deverão instalar detetor de metais e muros altos para que ninguém consiga entrar em escolas com armas. Cada pessoa deve ainda ser rigorosamente revistada antes de entrar numa sala de aula, acrescentou o antigo Presidente que sempre se manteve próximo do ‘lobby’ das armas.
Donald Trump chegou a dizer-se favorável a um maior controlo dos antecedentes criminais e mentais, mas, segundo o “Washington Post”, mudou de opinião depois de ter conversado com o líder da National Rifle Association, a maior organização lobista pró-armas dos EUA, que lhe terá lembrado que se apoiasse a medida iria perder a sua base de apoio republicana.