
Da junção das antigas instalações da Pensão Tomás e do Café Triagá nasceu o Beja Hostel. Em abril do ano passado, durante a pandemia, as obras de reparação na rede de esgotos levaram à descoberta de parte da antiga cidade, a Pax-Júlia do tempo dos romanos.
A Direção Regional de Cultura de Alentejo começou a acompanhar o processo para que as constantes descobertas arqueológicas não fossem destruídas, o que levou a que fossem alterados os sistemas de águas e esgotos.
António Freire, natural de Alvito, arrendatário do espaço desde 2014, revela que no local foram encontradas “talhas enterradas no solo, uma magnífica parede e uma cisterna com a mina de água bem conservada que datam do período romano. Mas há mais, temos também muitos vestígios islâmicos”, remata.
A arqueóloga Maria da Conceição Lopes, professora auxiliar da Faculdade de Letras da universidade de Coimbra, explicou num vídeo a importância dos achados arqueológicos e afirmou-se “convencida de que se trata de umas termas romanas”, justificou.
As descobertas levaram a que houvesse necessidade de alguns ajustamentos no edifício e já foram elaborados novos projetos de estabilidade e de arquitetura e as obras deverem recomeçar ainda este mês, com as escavações a durar dois meses. O espaço deverá estar concluído e pronto a receber de novo hóspedes no final de 2023.
Ao JN, o empresário refere que, atualmente, a unidade tem 10 quartos que podem albergar 20 pessoas, mas o objetivo futuro é “reduzir o número de quartos e de pessoas”. “O hostel ficará a funcionar no primeiro andar e no piso térreo queremos abrir um museu, um espaço visitável por toda a gente. Queremos valorizar a unidade e toda a região de Beja”, justificou António Freire. “No espaço dos achados será criada uma mesanine, uma receção e um bar para que os visitantes possam desfrutar e perceber melhor o que era a antiga Beja romana”, concluiu.
O espaço já foi visitado por responsáveis de diversas instituições, entre elas a Câmara Municipal de Beja, com quem o promotor pretende estabelecer um protocolo. “Não pedimos dinheiro. Pretendemos somente apoio logístico para a remoção de terras e que seja reconhecido como Projeto de Interesse Municipal (PIM)”.
Paulo Arsénio, presidente da autarquia bejense, confirma a efetivação do protocolo que, além da remoção de terra e entulhos, “sem custo para o proprietário”, autoriza “a escavação ao longo da fachada da parede até ao limite do passeio e a cedência de pelintos e vitrinas para exposição dos materiais encontrados”.
Campanha de Angariação de Fundos
Para o pagamento dos projetos para o hostel funcionar e abrir o museu no piso térreo são precisos cerca de 15 mil euros e vai ser levada a cabo uma campanha de angariação de fundos através da plataforma GoFundMe, denominada “Beja, uma janela para o passado”.