
Stefano Guidi
Tudo começou na primavera de 2020 quando Itália atingiu o pico de infecções da Covid-19. Em março do ano passado, Khaby Leme foi demitido do emprego numa fábrica na cidade de Chivasso, no norte do país. Sem trabalho, viu-se obrigado a regressar para a casa dos pais. O que o jovem de 21 anos, de origem senegalesa, não sabia é que a sua vida iria mudar para sempre.
Com o confinamento, Khaby, que vive em Itália há duas décadas, decidiu começar a publicar vídeos no TikTok, plataforma que se tornou bastante popular durante a pandemia. “Infelizmente perdi o meu emprego, mas isso aconteceu com muitas pessoas. Quando fui demitido e tive de ficar em casa, finalmente pude fazer o que queria e concentrar-me no que gosto, fazer vídeos, fazer as pessoas rir”, explicou ao El Pais.
O jovem repetia sempre um padrão: usava gravações de outras pessoas, geralmente truques disparatados e inúteis da vida quotidiana, e respondia com soluções muito mais simples (e óbvias). Isto tudo, sem dizer uma única palavra e com apenas um gesto que se tornou viral. Eis alguns exemplos: enquanto um internauta corta a casca de uma banana com uma faca, Khaby descasca com as mãos. De seguida, aponta para a fruta, faz uma careta e o icónico gesto com as mãos, para que não é necessário complicar o que é simples. “Os meus vídeos não são complicados, acho que esse é o segredo”, afirmou.
Ao contrário dos tiktokers que habitualmente usam materiais de gravação dispendiosos, Khaby apenas utilizava um telemóvel antigo que apoiava numa garrafa de plástico, com uma iluminação precária. Afinal, o seu “único objetivo era fazer as pessoas felizes”. Poucas semanas depois os seguidores chegaram a centenas de milhares. Hoje, ultrapassam os 121 milhões, sendo o segundo tiktoker mais popular do mundo.
No Instagram também acumula uma legião de fãs, com mais de 58 milhões, estando este número acima da influencer Chiara Ferragni, e o marido, o rapper Fedes, juntos, que são muito influentes nas redes sociais em Itália. Além do casal, Mark Zuckerberg, criador do Facebook e dono do Instagram, também está atrás de Khaby com oito milhões de seguidores.

Victor VIRGILE
Khaby trabalha agora a tempo inteiro nas redes sociais, embora não goste de chamar trabalho ao que faz porque “faço porque gosto, divirto-me” e até tem uma equipa a trabalhar para si. “Tens uma responsabilidade enorme, podes influenciar muita gente, eu brinco nos meus vídeos e procuro sempre não desrespeitar ninguém, não cair em nenhuma forma de discriminação”, sublinha.
Ao tornar-se famoso, o jovem começou a ser contatado para fazer colaborações com vários famosos, inclusive jogadores de futebol como Alessandro Del Piero, ex-futebolista da Juventus, e Zlatan Ibrahimović, atual jogador do AC Milão. Hoje está ao lado de grandes nomes internacionais, mas a vida antes da fama não foi fácil. Chegou a Itália quando tinha apenas um ano e até recentemente morava numa casa cedida pela câmara para pessoas em situação de exclusão social.
Além disso, Khaby não tem cidadania nem passaporte italianos. “A pessoa é de onde se sente, não preciso de um papel para me sentir italiano. Se me derem a nacionalidade, ainda haverá milhões de pessoas a lutar para consegui-la”, destacou, acrescentando que gostaria que o seu caso desse visibilidade a milhares de pessoas que estão na mesma situação.
Apesar de já ter estado com celebridades como Greta Thunberg e Naomi Campbell, o seu grande ídolo é Will Smith, com quem gostaria de fazer um filme. O tiktoker tem um sonho por realizar: chegar a Hollywood e tentar a sua sorte na comédia. “Tens que superar os teus próprios limites e, principalmente, os limites impostos pelos outros”, rematou.