
Os economistas da Católica reviram em baixa, em 0,3 pontos percentuais, para 4%, a projeção de crescimento da economia portuguesa em 2022, tendo em conta os impactos já sentidos pela guerra na Ucrânia e a incerteza gerada a partir desse cenário, segundo um comunicado divulgado esta quarta-feira.
De acordo com a análise trimestral do Católica Lisbon Forecasting Lab (NECEP), “os efeitos das políticas económicas usadas pela generalidade dos países desenvolvidos durante os dois últimos anos manifestaram-se em várias dimensões, nomeadamente na subida dos preços da energia, na inflação e numa perspetiva de subida das taxas de juro, mais rápida nos Estados Unidos do que na zona euro”.
Ou seja, a “relativa previsibilidade de curto prazo despareceu e a incerteza económica aumentou significativamente” – algo que piorou com a invasão russa da Ucrânia e as consequentes sanções internacionais.
Assim, no primeiro trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá ter crescido 0,2% em cadeia, “alcançando um nível equivalente a 98,8% do quarto trimestre de 2019, o último período sem os efeitos da pandemia”.
Para 2022 o crescimento do PIB é revisto em baixa, para 4%, com um intervalo amplo entre 3% e 5%. O valor estimado fica abaixo das previsões do Governo (5%), do Banco de Portugal (4,9%) e do Conselho de Finanças Públicas (4,8%). É, contudo, um valor aproximado da estimativa mais pessimista do anterior gabinete das Finanças de João Leão (3,8%).
“Porém, as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que poderão ser usadas ao longo do corrente ano num contexto de baixa execução em 2021, deverão amortecer esta revisão em baixa, limitando o impacto do potencial choque no crescimento”, lê-se na nota do NECEP.
O NECEP prevê ainda que a taxa de inflação – que se fixou em 5,5% em março – “fique entre 3% e 7%, com um ponto central de 5%”, ou seja, “uma forte revisão em alta face ao ponto central de 2% indicado na última folha”.
Tendo em conta as políticas monetárias em vigor, os economistas antecipam “que o BCE terá dificuldade em reduzir a inflação da zona euro a médio prazo, com um ponto central em torno dos 2.5% no horizonte de 2024”.
Quanto ao próximo Orçamento do Estado – que o atual ministro das Finanças, Fernando Medina, disse querer entregar ainda em abril – o NECEP relembra que o “cenário macroeconómico é diferente face a outubro”, quando o OE foi chumbado. Tal “obrigará a tomar decisões difíceis, sendo de esperar alguma conflitualidade socio-sindical na sequência da inflação instalada”.
“Por via do previsível alinhamento das taxas de juro com a inflação a médio e longo prazo, os custos com o serviço da dívida deverão subir de forma significativa e as balanças externas poderão ser sujeitas a grande pressão, embora beneficiem das transferências de capital oriundas da União Europeia”, indica, por fim, o NECEP.