
Na Câmara Municipal de Mafra a semana de trabalho de quatro dias foi objeto de um projeto-piloto durante três anos e meio, muito antes Governo anunciar que irá testar a sua adoção. E, nas palavras de Hélder Sousa Silva, “foi uma experiência a não repetir”. O presidente da autarquia revela que “as pessoas começaram a ficar cansadas, a produtividade foi diminuindo ao longo do tempo, e os serviços começaram a atrasar trabalho”. Hoje, de regresso aos cinco dias de trabalho semanal, os funcionários autárquicos preferem a flexibilidade de horário que lhes foi concedida. “No mundo do trabalho, a palavra-chave é flexibilidade”, salienta.
Hélder Sousa Silva foi um dos participantes na conferência “Parar para Pensar: Trabalho”, promovida pelo Expresso com o apoio da Deco Proteste. A conversa, moderada pela jornalista da SIC, Marta Atalaya, contou com a presença de Rui Dias Teixeira, Country Manager da ManpowerGroup; Bruno Horta Soares, Leading Executive Advisor da IDC Portugal; e de Patrícia Adegas, Country Communications & Patient Engagement Head at Novartis.
“A semana de quatro dias não passa de uma manobra de diversão do Governo”, afirmou Hélder Sousa Silva (à direita)
nuno fox
No Reino Unido, o modelo de trabalho de quatro dias começou esta semana a ser testado, tanto no sector público como no privado, num projeto-piloto que visa testar a produtividade de milhares de trabalhadores, que irão receber 100% do salário por 80% do tempo. Na opinião de Patrícia Adegas, o sucesso deste modelo depende da cultura, defendendo que em Portugal a flexibilidade é mais valorizada do que o tempo de trabalho. A responsável de comunicação da Novartis refere o exemplo da sua empresa, onde a iniciativa “escolha com responsabilidade” permitiu tirar esta conclusão. “Os portugueses não precisam de horas livres, precisam de euros na carteira para fazer face ao aumento do custo de vida”, acrescenta Hélder Silva.
Outras conclusões:
Talento
- “Semana de quatro dias no sector das Tecnologias da Informação afastaria ainda mais estes profissionais do trabalho no Estado”, acredita Bruno Horta Soares, que reforça que neste modelo será muito difícil atrair talento

Patrícia Adegas defendeu que nas empresas é importante refletir sobre a transição demográfica
nuno fox
Requalificação
- Este é, na opinião de Rui Dias Teixeira, um tema essencial. “As pessoas têm que estar dispostas a aprender ao longo da vida”. E, a este nível, os portugueses têm uma grande capacidade de adaptação e de reinvenção, “como se viu durante a pandemia”.
Remoto
- Portugal está a atrair cada vez mais nómadas digitais, com Lisboa, Porto e Ericeira no topo das escolhas. “Esta será também uma forma de distribuir melhor as pessoas pelo país”, diz o presidente da Câmara Municipal de Mafra, que acrescenta que “só há atratividade regional se houver boas infraestruturas”.