
O Presidente dos EUA, Joe Biden, reconheceu esta sexta-feira que os norte-americanos foram “desajeitados” na forma como engendraram o acordo militar com a Austrália e o Reino Unido (AUKUS), que prejudicou os interesses franceses.
Em Roma, durante a cimeira do G20, e no primeiro encontro desde a crise diplomática com o homólogo francês, Emmanuel Macron, Biden admitiu que o país não deveria ter permitido que a diplomacia de Paris fosse apanhada de surpresa pela venda de submarinos nucleares à Austrália. O contrato levou Camberra a rasgar um outro acordo com uma empresa francesa avaliado em 31 mil milhões de euros.
“Acho que o que aconteceu, para usar uma expressão em inglês, é que o que fizemos foi desajeitado. Não foi feito com muita elegância”, reconheceu Biden. “Fiquei com a impressão de que certas coisas tinham acontecido, e afinal não”, admitiu o Presidente norte-americano, sublinhando que França é um parceiro “extremamente valioso” e “uma potência em si mesma”.
“What happened was, to use an English phrase, what we did was clumsy,” Pres. Biden says during meeting with French Pres. Macron about the recent U.S. snub of France for nuclear submarine technology in favor of Australia.
“France is an extremely, extremely valued partner.” pic.twitter.com/Fpyjg49o8l
— ABC News (@ABC) October 29, 2021
Emmanuel Macron disse que a reunião com Biden foi “importante” e que é essencial “olhar para o futuro”, enquanto França e os Estados Unidos trabalham por sarar as relações. Os dois líderes mostraram-se calorosos, com múltiplos apertos de mão e toques nas costas no início da reunião, ainda na presença de jornalistas.
“O que realmente importa agora é o que vamos fazer juntos nas próximas semanas, meses, anos”, disse Macron. Depois da reunião, o líder francês destacou que a conversa tinha sido útil e realçou o empenho “forte” dos Estados Unidos relativamente à defesa europeia, mas quer ver acção que comprove as palavras.
“A confiança é como o amor: declarações são boas, mas provas são melhores”, referiu.
Desde o azedar das relações, Washington tem feito por reconciliar-se com o seu aliado mais antigo. A reunião, realizada em Villa Bonaparte, a embaixada francesa no Vaticano, foi mais um marco. Segundo declarações de um diplomata francês à Reuters, o local o encontro foi um sinal de boa vontade de Biden.
“É um gesto importante”, referiu, acrescentando que os Estados Unidos reconhecem que subestimaram o impacto das suas acções. “A confiança está a ser reconstruída. Este é um passo. Foram lançadas fichas de boa vontade. Vamos ver se se mantém assim a longo prazo”.
Aquando do anúncio da parceria com o Reino Unido e a Austrália, os Estados Unidos argumentaram que a medida, que irá reforçar os sistemas de defesa do aliado do Pacífico com navios movidos a energia nuclear, permitirá que os australianos contenham a expansão chinesa na região.
Mas Paris argumentou que Washington os enganou sobre as negociações com a Austrália, catalogando o AUKUS como uma “facada nas costas”, e comparou a actuação dos três países com a forma de fazer política do ex-Presidente dos EUA Donald Trump. Para além da construção dos novos submarinos, o acordo era visto pelo Governo francês como essencial para a sua estratégia para a região do Indo-Pacífico, onde França tem territórios com dois milhões de habitantes e sete mil soldados destacados, com a aliança Paris-Camberra no centro.