
Foi no sábado, 26 de março, que Phil Collins deu o último concerto da carreira com os Genesis, na O2 Arena, em Londres, no Reino Unido. “Agora vou ter que arranjar um emprego a sério”, brincou o famoso músico, que aos 71 anos está visivelmente fragilizado e debilitado.
Desde que a sua condição física piorou que atua sentado numa cadeira e só usa a voz — deixou de poder tocar bateria, instrumento com que se popularizou, no início da carreira. Nos últimos tempos, foi o seu filho Nic Collins que ficou encarregue da percussão nos espetáculos.
Os problemas de saúde começaram a afetar Phil Collins em 2007. Foi num concerto de uma digressão de reunião dos Genesis que, a meio de um solo de bateria, sofreu uma lesão numa vértebra do pescoço. Causou-lhe problemas no sistema nervoso — e fez com que deixasse de conseguir tocar bateria normalmente.
Durante algum tempo, ainda conseguiu tocar com as baquetas presas às suas mãos, mas acabou por deixar mesmo de conseguir fazer todos os movimentos necessários. Perdeu a sensibilidade nos dedos.
“Depois de uma operação que correu bem, as minhas mãos ainda não funcionam normalmente. Talvez daqui a um ano ou assim isso mude, mas por agora é impossível tocar bateria ou piano. São coisas que acontecem na vida”, escreveu o músico em 2009, dirigindo-se aos fãs no seu site oficial, explicando o que acontecera.
Phil Collins tinha sido submetido à primeira cirurgia à coluna vertebral. O músico estava num momento emocional difícil, uma vez que também tinha dificuldade em conseguir fazer coisas básicas no dia a dia — por exemplo, às vezes precisava de ajuda para ir à casa de banho.
Atravessava este processo de recuperação quando se divorciou da terceira mulher, Orianne Cevey, com quem estava casado desde 1999. Numa entrevista à revista “Rolling Stone” em 2010, Collins confessou que pensou tirar a própria vida “nos últimos anos”. “Não rebentaria a minha cabeça. Teria uma overdose ou algo que não doesse. Mas não faria isso às crianças.” O músico tem vários filho, frutos de diferentes relações. O mais novo tem, atualmente, 18 anos.
Nessa altura, começou a consumir cada vez mais bebidas alcoólicas e desenvolveu uma dependência. “Não andava a rebolar por aí bêbedo”, recordou em declarações ao jornal “The Daily Mail”, em 2016. “Mas comecei a beber. Costumava levantar-me, bebia e via críquete na televisão.”
As coisas pioraram quando Orianne Cevey, já numa nova relação, se mudou com o novo marido e os filhos que tinha em comum com Collins para os EUA. “Do nada estás a beber vodka do frigorífico de manhã e a cair em frente aos teus filhos.”
Na pior fase do seu alcoolismo, em 2012, Phil Collins desenvolveu uma pancreatite aguda e terá estado perto da morte. Contudo, conseguiu iniciar um processo de reabilitação e, mesmo com algumas recaídas pelo meio, recompôs-se. Porém, a sua saúde piorava.
Em 2015, foi submetido a uma nova cirurgia à coluna. Teve de começar a usar uma bengala após esta intervenção. Mais tarde, passou também a utilizar, esporadicamente, uma cadeira de rodas para se movimentar.
Na mesma altura, reatou com a ex-mulher Orianne, que tinha deixado o marido. Chegaram a voltar a viver juntos na mansão de Phil Collins em Miami, mas em 2020, de repente, Orianne Cevey casou novamente com outro homem — alegadamente sem o conhecimento do músico. Seguiu-se uma batalha legal pela propriedade, que o artista venceu já este ano.
Em 2017, descobriu que estava novamente doente: Phil Collins foi diagnosticado com diabetes tipo 2. Acabou por desenvolver um abcesso num pé que ficou infetado e teve de ser submetido a um tratamento num centro hiperbárico. Noutra ocasião, o músico foi obrigado a cancelar alguns concertos depois de tropeçar num quarto de hotel durante a noite e bater com a cabeça numa cadeira. Chegou a ter de levar pontos perto de um olho.
Apesar de todos os problemas de saúde, Phil Collins continuou a fazer aquilo de que mais gosta — a dar concertos. E até encarou a situação com algum humor. Em 2018, chamou à sua digressão “Phil Collins: Not Dead Yet”. No ano seguinte, foi a vez da tour “Still Not Dead Yet, Live!”. A que agora terminou chamava-se “The Last Domino?”.
Em declarações a um documentário da PBS sobre o pai, o filho Nic Collins revelou a importância dos concertos que o músico continuava a dar. “Sempre que o meu pai se sentia um pouco em baixo e ia atuar, via-o a ficar mais bem disposto. Porque quando estás numa arena frente a 20 mil pessoas que te adoram, esse sentimento muito é importante para os músicos. Para perceberem que aquilo que fazem e fizeram ainda é relevante.”
From tonight’s final #Genesis show in London (from left): #PeterGabriel, #PhilCollins, and Richard McPhail (long time friend and tour manager in the ‘70s). If you’ve not read Richard’s book on Genesis, you should. @genesis_band @itspetergabriel @PhilCollinsFeed pic.twitter.com/Zsmo0WMGr1
— World of Genesis (@WorldofGenesis) March 27, 2022
Neste último concerto, na plateia estava Peter Gabriel, músico que deixou os Genesis em 1975. Phil Collins e Gabriel tiraram inclusive uma fotografia com o antigo manager e amigo de longa data, Richard McPhail, que escreveu um livro sobre a banda, “My Book of Genesis”.
A filha Lily Collins, que se tornou conhecida como protagonista da série “Emily em Paris”, também marcou presença. “Hoje marca o fim de uma era. Ter assistido a este último espetáculo foi a memória de uma vida e um acontecimento que vou guardar para sempre no coração. Foi deixado muito amor no palco da O2 Arena e ainda mais partilhado com o público que não queria que acabasse. Obrigado aos Genesis pelas memórias. Obrigado, pai, por seres uma inspiração, e obrigado Nic por me tornares na irmã mais orgulhosa que existe”, escreveu nas redes sociais.
Lily Collins nem sempre teve uma relação fácil com o pai — aliás, chegou a desenvolver vários problemas, como um distúrbio alimentar, graças às suas inseguranças. Leia o artigo da NiT sobre a atriz.