
Se António Costa já tinha entregue a Jerónimo de Sousa, na terça-feira, as propostas reforçadas para o Orçamento de 2022, tentando garantir a viabilização do documento na generalidade com um aumento ainda maior de pensões e compromisso de gratuitidade das creches, essas ideias, por si só, não parecem chegar para convencer os comunistas – pelo menos não antes de, eventualmente, haver novas propostas na reunião deste sábado.
No Expresso da Meia Noite desta sexta-feira, com a manchete do Expresso deste sábado em cima da mesa, precisamente falando destas novas cedências, o deputado comunista António Filipe pareceu inflexível: “O balanço que fazemos hoje é que o OE não basta, tem de se integrar numa resolução mais vasta de problemas. Porque não é suportável a ideia de que nós aprovamos, viabilizarmos um OE que tem aqui um aumento das pensões, uma cedência do Governo nas creches, mas depois arriscamos a chegar ao final do ano e os grandes problemas continuarem a não estar resolvidos“.
Os problemas de que falou António Filipe, já um histórico da bancada comunista e membro do Comité Central, são vastos. Disse que “não podemos continuar a assistir ao adiar sistematicamente à reversão das medidas mais gravosas da troika”, também de “não haver aumento significativo do salário mínimo” (Costa propôs esta sexta-feira continuar a aumentar para lá desta legislatura, mas mantendo a meta desta). E acrescentou um foco no Estado: “Há aqui uma espécie de bloqueio da resolução dos problemas. Em tudo quanto é setores da Administração Pública – saúde, segurança, justiça, professores – encontramos enorme insatisfação. Seja a nível salarial, seja de progressões, de condições e trabalho. Ou é dada uma resposta, ou cria-se uma enorme insatisfação nas pessoas”, avisou António Filipe.
O PCP, admitiu, vê que neste Orçamento há diferença significativa face a anteriores. E dividiu esses (que o PCP viabilizou) de forma simples: na legislatura anterior, “estava em cima da mesa travar uma política que estava a ser seguida pelo PSD e CDS, reverter os seus aspetos fundamentais e repor rendimentos”. No último, o de 2021, “em plena pandemia e num momento particularmente crítico, era preciso tomar medidas. Daí termos achado que, por os trabalhadores em layoff passarem a receber 100% do salário, por ter havido um reforço significativo do orçamento do SNS, que aquele OE devia de facto ser viabilizado”.
Porém, o OE para 2022 é diferente: “Olhamos agora ara o país e vemos que as pessoas olham com grande perplexidade para a falta de resolução dos problemas”, sintetizou António Filipe. E o PCP não acha que havendo eleições o problema pode agudizar-se? “Ao não responder aos problemas, estamos a caminhar para uma crise social e inevitavelmente para uma crise política. Pode levar a uma situação de descontentamento que possa levar as pessoas a aderir a cantos de sereia, a populismos”, avisou o deputado.
E o PCP, pode perder com eleições? – perguntaram os jornalistas. António Filipe respondeu: “Quando houver eleições, mais tarde ou mais cedo, não sei qual vai ser o resultado. O nosso problema é lutar pelas nossas convicções e submeter-nos ao veredicto dos portugueses assim.“