
O nome Clark Olofsson pode não ser muito famoso em todo o planeta, mas na Suécia será difícil encontrar alguém que não o reconheça de imediato. É descrito como o criminoso mais célebre do país nórdico e agora a sua história vai ser contada numa série de televisão.
Chama-se “Clark”, estreia esta quinta-feira, 5 de maio, e tem seis episódios que já estão disponíveis na Netflix. Bill Skarsgård é o ator protagonista, que interpreta Olofsson ao longo dos anos e conta o que se passou na primeira pessoa. Ele é o narrador do enredo, aquele que vai guiando os espectadores pela sua história de vida, através da sua perspetiva hiperbolizada. Esta é caracterizada como uma viagem de contornos inacreditáveis e surreais, uma vez que Clark Olofsson era um criminoso altamente carismático.
Entrou cedo no mundo do crime, nos anos 60, e foi condenado por inúmeros crimes. Agressão, roubo, tráfico de droga, tentativa de homicídio e assaltos a bancos foram alguns dos principais delitos do seu currículo. Muitos destes crimes foram mediáticos, ajudando a catapultar o nome de Clark Olofsson na opinião pública sueca. Olofsson passou muitos anos a entrar e a sair da prisão.
Acabou por ficar mais conhecido pelo assalto a um banco em Estocolmo, a capital sueca, em 1973. Jan-Erik Olsson, outro criminoso fugido da prisão, entrou num banco com uma metralhadora e uma mala que continha uma faca, cordas e explosivos. Olsson estava mascarado — fingiu ter um sotaque americano, usava um par de óculos falsos, tinha uma grande peruca castanha e o bigode e as sobrancelhas pintadas. “A festa acabou de começar”, gritou ao entrar no estabelecimento, depois de uma rajada de tiros para o ar.
A primeira coisa que fez foi meter música rock a tocar no seu rádio. Vários funcionários conseguiram sair do banco, mas Olsson quis manter quatro trabalhadores como reféns. Foram atados com cordas para que não pudessem escapar. Uma delas tinha apenas 23 anos e chamava-se Kristin Enmark.
O primeiro agente da polícia a chegar ao local não conseguiu obter grande coisa do raptor. Olsson recusou-se a cooperar porque queria falar com um superior. Entretanto, ameaçou-o com a sua arma e pediu-lhe para cantar uma música. O polícia ficou tão assustado que começou a entoar “Lonesome Cowboy”, de Elvis Presley. Mais polícias foram chegando e montando o cerco à volta do edifício — incluindo um inspetor que Olsson conseguiu atingir com um tiro na mão. Só quando Sven Thorander, superintendente da polícia, chegou ao local, é que o raptor começou a explicar as suas exigências.
Primeiro, queria que o seu amigo Clark Olofsson fosse libertado da cadeia onde cumpria uma pena de seis anos por assalto à mão armada e pela participação no homicídio de um polícia nos anos 60. A ideia é que Olofsson se juntasse a ele como parceiro naquele golpe. Olsson pediu ainda cerca de 265 mil euros e um carro rápido para fugir.
A polícia reagiu rapidamente e cumpriu todas as exigências que o criminoso tinha pedido — incluindo um Ford Mustang azul com o tanque cheio de gasolina. Mas não permitia que Olsson escapasse e levasse com ele os reféns. Por causa disso, Olsson não se rendia, o que resultou num cerco de vários dias. Chegou aos jornais de todo o mundo e foi o primeiro incidente criminal a ser transmitido em direto na televisão sueca.
Dentro do banco, outra coisa bizarra acontecia, já com Olofsson no interior. “Ele reconfortou-me e segurou a minha mão”, contou Kristin Enmark no podcast Memory Motel em 2016. “Não posso dizer que me senti segura, mas escolhi acreditar nele. Ele significou muito para mim porque acreditei que alguém queria saber de mim. Ele deu-me esperança e fé de que tudo acabaria bem.”
Outra refém, Elisabeth Oldgren, também disse que os raptores cuidavam dela — emprestando-lhe o casaco quente para dormir quando estava muito frio. Não demorou muito até os reféns começarem a temer mais a polícia — que poderia invadir o banco de uma forma bruta ou até letal — do que os raptores. Kristin Enmark também falou com a revista “The New Yorker” em 1974. “Estávamos no cofre de forma a respirarmos juntos, a sobrevivermos. Quem quer que ameaçasse esse mundo era o nosso inimigo.”
Olsson pediu para falar ao telefone com o primeiro-ministro da Suécia naquela altura, Olof Palme. Propôs que Palme entrasse no banco e saísse com os reféns com a autorização dos raptores. Como o pedido foi negado, a própria Kristin falou com o primeiro-ministro e explicou que era aquilo que os reféns desejavam. “Não tenho medo deles, tenho medo da polícia. Entende isso? Acredite ou não, mas temos passado um bom tempo aqui.”
Inicialmente, os raptores apenas deixavam que os reféns saíssem do cofre enquanto estavam amarrados com uma das cordas. Mas a confiança entre todos foi crescendo e chegou a um ponto em que todos caminhavam livremente dentro do espaço. As autoridades tentaram cortar a luz e impedir o fornecimento de comida e água como forma de forçar a rendição, mas nada parecia resultar. Três dias depois do início do rapto, começaram a perfurar o cofre. Furiosos, os raptores começaram a disparar, ameaçando que iam matar os reféns. Foi só ao quinto dia que a polícia decidiu que a melhor solução seria lançar gás lacrimogéneo para dentro do banco. Olsson rendeu-se finalmente depois de isso acontecer.
A polícia entrou para levar os raptores, mas os reféns insistiram que Olsson e Olofsson fossem levados à sua frente para que não fossem alvejados. As vítimas foram levadas para o hospital e vistos por especialistas, que ficaram surpreendidos com as suas reações ao que tinha acontecido.
“Não conseguia dormir. Queria alguém que me desse a mão e estava a gritar”, explicou Kristin Enmark. “Passa-se algo de errado comigo? Porque é que não os odeio?”, questionou aos médicos e psicólogos. Elisabeth Oldgren estava na mesma condição — sentia uma empatia extrema pelos raptores.
Com o passar do tempo, tudo acabou por se normalizar e Kristin voltou a casa. Começou a estudar para se tornar uma psicoterapeuta. Os criminosos foram condenados a penas de prisão. Kristin voltou a ver os seus raptores — manteve o contacto com Olofsson ao longo dos anos e as respetivas famílias até ficaram amigas. Também se reuniu com Olsson num programa de televisão e foram jantar a seguir. As reações dos reféns chocaram o mundo e foram as primeiras pessoas diagnosticadas com o Síndrome de Estocolmo — que ali ficou criado.
A série “Clark” relata esta história, mas também outras aventuras da vida de Clark Olofsson. Do outro lado da narrativa há um agente que assumiu como sua missão travá-lo, o trapalhão Tommy. Mas o povo sueco, ironicamente, está mais do lado de Olofsson.
O elenco inclui ainda Alicia Agneson, Vilhelm Blomgren, Hanna Björn, Sandra Ilar ou Peter Viitanen, entre outros. Os episódios foram realizados por Jonas Åkerlund.
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