
“A Filha Perdida”: um dos filmes do ano é sobre um dos maiores tabus da sociedade
É um candidato aos Óscares. Centra-se numa mãe que deixou as filhas com o pai, esmagada pelo peso da maternidade.

Olivia Colman é a protagonista.
A narrativa começa quando uma mulher de meia-idade (interpretada por Olivia Colman) começa umas férias solitárias numa praia soalheira do Mediterrâneo. Mas cedo se torna evidente que há um segredo obscuro a pairar em torno desta protagonista chamada Leda.
Não é, como em muitos outros filmes, uma história de trauma ou abuso reprimido. O argumento de “A Filha Perdida” — realizado por Maggie Gyllenhaal a partir de um conto de Elena Ferrante publicado em 2006 — centra-se num dos maiores tabus da sociedade.
Foca-se numa mãe que deixou as filhas (crescidas) com o pai, esmagada pelo peso da maternidade. A protagonista não é apresentada como vítima: é uma mulher cuja maternidade lhe limitou o corpo, o sono, a carreira académica, as oportunidades de emprego, a sua identidade ou sensualidade. É uma mãe.
Esta mulher nunca fala em arrependimento — por ter tido, ou por ter deixado, as filhas. Ao mesmo tempo, também não se sente culpa, nem felicidade ou alívio, nesta personagem. Apesar de os espectadores a poderem considerar egoísta ou emocionalmente distante, Leda é retratada como uma pessoa que não é má.
As férias, que representam uma busca desesperada por paz, são atormentadas por pequenas coisas — seja uma cigarra que não se cala, uma taça de fruta podre ou uma ruidosa família ítalo-americana que também está a passar uns dias naquele local.
É com esta família que vai acabar por interagir e demonstrar a sua preocupação e bondade. Isso acontece especialmente quando a filha de Nina (Dakota Johnson) desaparece durante algum tempo. O acontecimento transporta Leda diretamente para as suas memórias distantes, quando o mesmo aconteceu a uma das suas filhas numa praia.
A história acaba por questionar a visão que temos da maternidade — não ser considerado atual uma mulher não querer abdicar de quase tudo para ser mãe, o facto de nem todas as mulheres fazerem uma transição imediata para este papel das suas vidas — com uma protagonista que não adora esse papel, que até demontra algum ressentimento para com as filhas.
O filme também inclui uma série de flashbacks, de uma versão mais jovem de Leda, interpretada por Jessie Buckley. Por vezes é inflexível e até vingativa com as miúdas. Mas também vibra quando brinca com elas ou quando as ensina a ler. Não é uma mãe vilã, de má fé, é uma mãe que não se identificou propriamente com a maternidade.
Naquela praia do Mediterrâneo, Leda conforta Nina e também a sua filha, quando acaba por a encontrar. E tal como diz a uma mulher grávida da família ítalo-americana: a maternidade é “uma responsabilidade esmagadora”.
“A Filha Perdida” foca-se nesta personagem embrenhada em dilemas e conflitos, sem paz, enquanto questiona aquilo que é esperado de uma mulher. Não há bons nem maus, não há totalmente errado nem certo, apenas diversas perspetivas e, por vezes, sentimentos contraditórios.
O elenco inclui ainda nomes como Ed Harris, Peter Sarsgaard, Paul Mescal, Jack Farthing, Oliver Jackson-Cohen e Dagmara Dominczyk, entre outros.
O filme, que está a ser apontado como um dos principais candidatos aos Óscares deste ano, estreia nos cinemas portugueses esta quinta-feira, 3 de fevereiro. Está disponível na Netflix de vários países, mas não entrará no catálogo português da plataforma de streaming.
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